Qual a Importância do Treino Neuromuscular nas Diferentes Áreas das Ciências do Desporto?

Normalmente associado à área do Exercício e Saúde pela sua prática no ginásio e aplicabilidade em processos de recuperação física, o Treino Neuromuscular, também conhecido como “Treino de Força” ou “Treino de Musculação”, cada vez mais tem maior expressividade na Educação e Ensino e assume um papel fundamental na preparação física de atletas associados ao Treino Desportivo e Alto Rendimento.

Para uma reflexão mais fundamentada analisemos então cada uma das áreas das Ciências do Desporto já mencionadas anteriormente.

Exercício e Saúde

Ao longo dos tempos, pesquisas têm vindo a evidenciar os benefícios do Treino Neuromuscular mostrando, cada vez mais, novas perspetivas positivas em relação à vida do ser humano. O Treino Neuromuscular é atualmente um método considerado eficaz para promover um bom desenvolvimento músculo-esquelético, boa aptidão física e melhoria da saúde e bem-estar, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida a qualquer individuo. Para além disso, este tipo de treino assume um papel fundamental não só no desporto em geral, mas também na saúde, seja em planos de recuperação ou na prevenção e tratamento de patologias diversas.

 

Num estudo desenvolvido por American College of Sports Medicine, American Heart Association, American Association for Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation e o Surgeon General Ofice, ficou provado que após a prescrição de planos de treino de força em grupos de adultos, idosos, cardiopatas, hipertensos e diabéticos, os resultados positivos não demoram a aparecer após algum tempo de prática.

Na população mais idosa, o envelhecimento traz de forma natural a diminuição de capacidades físicas, fisiológicas e psicológicas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e com a Sociedade Brasileira de Medicina no Desporto, a prática do Treino Neuromuscular regular, melhora a qualidade e a esperança de vida do idoso. Os benefícios associados a este tipo de treino são diversos, com foco especial na prevenção e aparecimento de incapacidades físicas associadas à falta de mobilidade e perda de massa muscular (sarcopénia).

 

Em populações mais jovens, a tecnologia tem afetado de forma significativa o aumento do sedentarismo. Substituir as brincadeiras de rua por horas em casa frente a um ecrã tem sido um hábito cada vez mais frequente. Hábitos como estes, conjuntamente com uma alimentação pouco saudável, levam ao aumento do diagnóstico de doenças crónicas provenientes dos elevados níveis de colesterol, hipertensão arterial, diabetes Mellitus e obesidade. O Treino Neuromuscular para além de prevenir e ajudar a reverter estas tendências, proporciona às crianças e jovens um desenvolvimento mais eficaz das suas capacidades físicas e melhora significativamente os seus níveis de saúde.

 

Em suma, inserido num plano de exercício físico regular, o Treino Neuromuscular é sem dúvida um pilar no que diz respeito a uma melhoria e manutenção dos níveis físicos, fisiológicos e psicológicos de qualquer individuo, independentemente do estádio em que se possa encontrar.

Treino Neuromuscular Dicas CEFAD photo-01

Educação e Ensino

O Treino Neuromuscular proporciona um conjunto de transformações benéficas para as crianças e jovens e sobrepõe-se claramente aos possíveis riscos provenientes desse tipo de trabalho. Se o treino for corretamente administrado, respeitando todas as questões metodológicas, os seus riscos serão quase nulos e, na pior das hipóteses, a magnitude desses riscos situar-se-ia, na mesma paridade, à existente no treino de força com adultos ou no treino de outra qualquer capacidade motora (Carvalho, 1993).

“Quando o treino da força é mal conduzido, isto é, quando não tomam em consideração os parâmetros morfológicos e funcionais próprios da idade, é que pode ser nefasto e tem levado à perda de muitos talentos”. (Carnevali, 1984).

Segundo Letzelter e Letzelter (1990) não devemos deixar de desenvolver a força nos nossos alunos por pensar nos riscos; devemos sim é tentar determinar linhas orientadoras de desenvolvimento para provê-los de índices elevados de prestação desta capacidade, dentro da individualidade biológica e psicológica de cada um.

 

O desenvolvimento da força na escola é um dos conteúdos programáticos para a disciplina de Educação Física. Nos programas do Ministério da Educação são claras as suas intenções, relativamente a esta capacidade, principalmente no que se refere à força resistente e à força rápida, pois são aquelas indicadas para o 3º ciclo.

Além dos profissionais da Educação Física, também os alunos e mesmo os pais, deverão perceber o porquê de a criança estar envolvida num trabalho de força e quais os benefícios que daí poderá tirar.

Os objetivos imanentes à Educação Física parecem centrar-se numa formação e desenvolvimento multilateral do aluno, através do desenvolvimento do seu reportório físico e motor e da sua capacidade de rendimento corporal, sem esquecer a formação de habilidades motoras e desportivas fundamentais.

De acordo com Matos & Graça (1991) além desses objetivos, a aula de Educação Física poderá ainda contribuir para a promoção e criação de hábitos de vida saudável. Bento (1991) afirma que está intimamente relacionada com a prevenção das doenças do foro cardio-circulatório e proporciona uma melhor organização do tempo livre. Para além disso é possível conferir benefícios psicológicos como a diminuição do stress e ansiedade e promoção do autoconceito e autoestima.

 

Os meios audiovisuais proporcionam às crianças um campo vasto de opções para a ocupação dos tempos livres, o que, em muitos casos, leva a um elevado sedentarismo da juventude. Pela vantagem a instituição Escola tem, no que se refere à população que pode atingir, através da Educação Física, deverá responder adequadamente às necessidades e interesses dos alunos, quer na perspetiva atual, quer numa perspetiva futura.

Treino Desportivo e Alto Rendimento

A força motora é entendida como a capacidade que um músculo ou um grupo muscular tem de produzir tensão e se opor a uma resistência externa num determinado tempo ou velocidade (FLECK; KRAEMER, 1999). De acordo com esta afirmação e pensando nas diversas modalidades desportivas, esta constatação leva-nos a associar qualquer movimento ou gesto desportivo à performance física de um atleta.

 

No ciclismo especificamente, BOMPA (2001) diz que as competições em circuitos de rua sobrepujam o sistema aeróbio. O ciclista deve estar preparado para o trabalho duro numa longa distância, efetuando rotações por minuto constantes de forma a manter a velocidade e a força contra a resistência dos pedais.

Então, sendo o Treino Neuromuscular fundamental para o aumento da força, integrado num plano global que leve em consideração os objetivos específicos, nível de condição física e programação de ciclismo, podemos concluir que através dele será possível melhorar a performance dos ciclistas, mesmo pertencendo eles a uma modalidade tipicamente aeróbia.

 

Mas para se conhecer melhor as necessidades específicas deste treino, não podemos esquecer as capacidades a serem trabalhadas, levando em consideração também as fontes de energia necessárias para execução do mesmo. “A metodologia clássica do treino de força (alto volume de trabalho com cargas baixas), demonstra que produz adaptações fisiológicas do tipo metabólico oxidativo” (HAKKINEN e KESKINEN,1989), “sem modificar a massa muscular e/ou a força” (Gollnick, 1981), pode ser benéfico para as modalidades desportivas de caráter cíclica de resistência de média e longa duração, onde a força não é um fator determinante.

São muitos os autores que sugerem que o treino de força pode ser um valioso auxílio ao programa de exercícios de atletas de resistência como os ciclistas. Apesar de gerar pouco ou nenhum aumento no VO2máx. (capacidade especifica essencial da modalidade), aumenta a potência anaeróbia, melhora a economia de movimento e aumenta também o tempo até a exaustão durante o exercício.

Resumidamente, por trazer inúmeros benefícios físicos, fisiológicos e psicológicos o Treino Neuromuscular é um pilar importante na saúde e bem-estar de qualquer pessoa. No ensino da educação física é considerado um facilitador por fazer parte do desenvolvimento multilateral das crianças e contribuir de forma importante no seu desenvolvimento.  E no treino desportivo, independentemente da modalidade e adaptado às necessidades do atleta, ocupa sem dúvida alguma um lugar relevante naquele que é considerado o mundo da competição, treino desportivo ou alto rendimento.

Desta forma, seja no Exercício e Saúde, na Educação e Ensino ou no Treino Desportivo e Alto Rendimento, conclui-se que a utilização do Treino Neuromuscular é base fundamental em todas as áreas das Ciências do Desporto sem exceção.

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Nuno Filipe

Personal Trainer e Formador CEFAD

Bibliografia/Webgrafia

  • Bento, J. (1991). Desporto, Saúde, Vida – Em Defesa do Desporto. Livros Horizonte. Lisboa.
  • Bompa, Tudor (2001). A Periodização no Treinamento Esportivo. São Paulo: Manole
  • Carnevali, R. (1984). Los Problemas del Entrenamiento en los Deportes de Fuerza para Ninos y Muchachos. In: Stadium. (107): 16-22.
  • Carvalho, A., Abdalla, P., Silva, N., Júnior, J., Mantovani, A. & Ramos, N. (2021). Exercício Físico E Seus Benefícios Para A Saúde Das Crianças: Uma Revisão Narrativa. Artigo de revisão. Vol. 13, Nº 1.
  • Carvalho, O (1993). Desenvolvimento e Treinabilidade da Força em Jovens em Fase Pubertária. Estudo em alunos do 8º ano de ambos os sexos em escolas de Vila Real. Dissertação apresentada às provas de Doutoramento. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real.
  • Fleck, S. & J. Kraemer, W. J. (1999). Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. 2ª ed. Rio Grande do Sul: Artmed.
  • Gollnick, P. D., Parsons, D. & Oakley, C.R. (1983). Differentiation of Fiber Types in Skeletal Muscle from a Sequential Inactivation of Inactivation of Myofibrillar Actomyosin ATPase during Acid Preincubation. Biochemistry (77).
  • Letzelter, H. & Letzelter, M. (1990). Entraînement de la Force. Editions Vigot. Paris.
  • Matos, Z. & Graça, A. (1991). Criação de Hábitos de Atividade Física Regular: um objetivo central da Educação Física. In: Atas das Jornadas Científicas: Desporto, Saúde e Bem Estar. J. Bento, A. Marques (Eds). FCDEF-UP. 311-317.
  • Moreira, Márcio. Efeitos de um programa de treino de força na capacidade funcional de um grupo de idosos. Dissertação apresentada com vista à obtenção do 2ºciclo em Atividade Física para a Terceira Idade, ao abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006 de 24 de março.
  • Murer, E., Braz, T. V. & Lopes, C. (2019). Treinamento De Força: Saúde E Performance Humana. Conselho Regional de Educação Física da 4a Região – CREF4/SP.
  • Rodrigues, Marco (2000). O Treino da Força nas Condições da Aula de Educação Física. Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Ciências do Desporto, na área de especialização de Desporto para Crianças e Jovens, orientada por Prof. Doutor António Teixeira Marques. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Porto.
  • Tássia Wiechmann, M., Rodrigues Soares Ruzene, J., Tavella Navega, M. (2013). O exercício resistido na mobilidade, flexibilidade, força muscular e equilíbrio de idosos ConScientiae Saúde, Vol. 12, Nº. 2.

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