Aulas de Grupo: menos 56% de hipótese de desistência!

As aulas de grupo têm um grande papel na área do fitness. São reconhecidas não só pelos inúmeros benefícios que têm os participantes, mas também por oferecerem treinos motivadores, desafiantes e cativantes ao som das mais variadas músicas.

Para os participantes, além dos benefícios associados ao exercício, como a perda de peso, o aumento da resistência, da mobilidade ou da saúde cardiovascular podemos perceber os benefícios sociais. A inclusão num grupo vai potenciar a criação de laços com os restantes participantes ou com os técnicos envolvidos, aumentando a sensação de pertença. Assim, aumentamos a possibilidade de conexões não só pelo treino ser partilhado por vários participantes, como pela possibilidade de obter feedbacks imediatos, dados pelo técnico.

Em Portugal a participação em aulas de grupo, segundo dados da Portugal Activo, ronda os 40 a 50%.

Segundo um estudo realizado em 2010, por Vanderburg[i], informa que as quatro principais razões para os clientes abandonarem um ginásio são:

“- 1% por falecimento;


– 3% porque mudam de residência;


– 13% vão para outros ginásios;


– 15% estão insatisfeitos com o produto ou serviços;

– 68% saem pela indiferença.”

É importante percebermos que as aulas de grupo podem fazer reduzir drasticamente a percentagem da indiferença. Após ser criada uma ligação emocional, as aulas passam a assumir a forma de compromisso. O simples facto de reservar a aula através da app permite a criação de um acordo informal de participação, no qual o cliente conhece o tipo de treino que vai fazer e qual a sua duração, a assume o seu compromisso perante o instrutor que o irá receber.

Embora exista cada vez mais variedade nas aulas de grupo, o papel do técnico é fulcral. A atmosfera depende da energia do instrutor, que se deve adequar ao tipo de aula, por exemplo: ser enérgico em aulas de treino intenso, cardiovascular ou de força; ser calmo e tranquilizante em aulas de Body and Mind; ser divertido em aulas de dança.

Um dos maiores desafios para os instrutores de aulas de grupo é a adaptação da aula a todos os participantes. As aulas devem ser previamente estudadas, com planos bem delineados, e baseadas em conhecimento científico. É importante que o instrutor reconheça que não se trata meramente de apresentar coreografias, mas de adaptá-las a necessidade das turmas, quer de forma geral, quer individual. É fulcral que os clientes que estão a começar se sintam à vontade para errar, e para que isso aconteça de forma fisicamente segura, é necessário que se saibam entregar feedbacks; que se perceba que o estímulo positivo trará sempre mais resultados a longo prazo; e que se conheça o treino como “a palma da mão”, para apresentar regressões ou adaptações para os exercícios, que poderão ser necessárias por limitações físicas ou, porque simplesmente o cliente ainda não está confortável para executar determinados movimentos. Além disso, é importante saber receber os sócios à porta da sala de aula, atempadamente, para que se possa conhecer, de forma muito sucinta, algumas especificidades da turma. Da mesma forma, é necessário entregar aos frequentadores regulares feedbacks com progressões em termos de treino, ou simplesmente denotações dos resultados, tão simples como o facto de parabenizar um dos clientes por ter conseguido finalmente fazer uma prancha sem os joelhos no chão, mesmo que a postura correta só tenha sido mantida por poucos segundos, fazendo-o voltar à regressão.

[i] Vanderburg, H. (2010). O Poder de um Grupo. Apresentação na XVII Convenção Internacional de Fitness “O Corpo em Movimento”, Aveiro, Nov. 27, 2010.

As aulas deverão ter sempre estruturas claras dividas por três fases distintas

Fase 1 - Antes da Aula

O instrutor deverá chegar atempadamente e, sempre que possível, preparar o material, organizar e ajustar a temperatura da sala e testar os equipamentos de som.

Cumprindo estes procedimentos deve receber os clientes à porta, com calma, cumprimentando individualmente, sempre acompanhado por música ambiente. Deve também auxiliar na seleção do material a ser usado nessa aula, ou, por exemplo, numa aula de Indoor Cycle, ajudar os clientes a se posicionarem corretamente na bicicleta.

Agenda Curso Indoor Cycle CEFAD-01

Fase 2 – Durante a Aula

Ter uma estrutura clara e importante para o sucesso da aula. De uma forma transversal a todas as modalidades, esta e uma proposta de estrutura para 45 minutos de treino:

  1. O instrutor deve dispor de 1 a 2 minutos para se apresentar, explicar o que acontecerá na aula, quais os objetivos gerais e quebrar o gelo entre os participantes.
  2. Cerca de 5 minutos deverão ser usados para o aquecimento.
  3. A parte fundamental deverá representar 75 a 80% da aula, sendo que deverá durar entre 30 a 35 minutos
  4. Os 5 minutos finais serão referentes ao alongamento, ou retorno à calma, sendo que esta parte da aula poderá variar mediante a modalidade.
  5. Finalmente, deverá orientar a turma as sensações que poderão advir do treino, ajudar e informar sobre que outras aulas os clientes podem fazer e orientar no processo de reorganização e arrumação do estúdio.

Fase 3 – Depois da Aula

  1. O técnico deverá passar informações referentes a experiências disponíveis no clube: aulas especiais, workshops, entre outras atividades. (Esta informação pode também ser disponibilizada no início da aula).
  2. O técnico é o último a abandonar o estúdio e deve mostrar-se integralmente disponível para interagir com os clientes, mantendo a música ambiente.
  3. É nesta fase que o instrutor pode passar feedbacks mais detalhados sobre posturas, execuções, ou assumir reconhecimento pelos progressos, mas sempre de forma individual.
  4. Resumidamente, durante toda a aula o instrutor deverá deixar a sua personalidade fluir para que os momentos antes e depois da aula sejam genuínos.

 O trabalho de encaminhamento ou aconselhamento para escolha das aulas de grupo pode acontecer na receção, nas avaliações físicas e mesmo no contexto da sala de exercício, encaminhando ou desafiando os clientes para aulas que mais se enquadrem com a sua condição física, objetivos e personalidade.

 As aulas são também uma forma de motivar os clientes a terem experiências diferentes, que podem ser alternadas com a regularidade e repetições necessárias ao treino de força, tornando assim mais motivadoras as idas ao ginásio.

 

 A música tem também um papel fundamental nas aulas de grupo. Este elemento pode fazer toda a diferença. Já todos nós sentimos, no nosso dia a dia, o impacto que uma música pode ter, e quando a associamos ao treino podemos proporcionar aos alunos um maior poder de concentração, que levará a uma motivação extra, por todo o processo se tornar mais prazeroso. Segundo um estudo a Brunel London University[i]: “A música cuidadosamente selecionada é comprovada para reduzir as percepções de esforço em 12%, melhorar os efeitos do exercício físico em 15%, eficiência de movimento em 7% e aumentar a resistência em 15%” Estes valores foram registados quando a música utilizada era síncrona, ou seja, a batida musical era coordenada com os movimentos realizados.

 

Aos instrutores cabe a difícil tarefa de escolher as músicas mais indicadas para potenciar o sucesso da aula e do treino. Muitos instrutores, tem como primeiro passo a escolha musical e só depois a escolha do treino. A diretora criativa da Les Mills International, Diana Mills disse num artigo publicado pela própria empresa[ii], que o seu trabalho se inicia sempre com a escolha musical referindo que “Temos que encontrar músicas que façam você querer se mexer”. A equipa de Diana cria cerca de 80 listas de reprodução inéditas por ano, o que os faz ter de efetuar pesquisas de milhares de músicas mensalmente para escolher aquelas 10 ou 12 que irão integrar nas suas modalidades.

 

Para a gestão dos ginásios as aulas servem para organizar os espaços, gerir horários de maior afluência e para a retenção dos clientes. Segundo, Paul Bedfort[iii], no 4º Congresso de Gestão de Health & Fitness Clubs, “ao praticar uma aula de grupo a probabilidade de um cliente cancelar baixa 18%”, e ainda segundo Melissa Rodriguez, num estudo da IHRSA, foi possível compreender que “o risco de cancelar o ginásio é 56% superior em quem não pratica aulas de grupo.”. Sabemos que é importante manter os clientes conectados aos clubes, mas estes artigos oferecem ainda a possibilidade de aumentar essa ligação, com a simples frequência de uma aula de grupo. Os clientes de treino personalizado também mantêm o serviço durante mais tempo quando frequentam aulas de grupo.

 

 Os dados das previsões de tendências para 2024 indicam, segundo a IHRSA, que há uma maior procura pelo fitness holístico, que procura trabalhar o corpo e a mente; uma crescente procura pelo treino acompanhado por um técnico especializado; uma procura por experiências personalizadas quer pelo contacto humano, quer através da utilização de apps; e uma continua procura por treinos outdoor, virtual e gadgets. No entanto, é importante salientar que grande parte destas tendências é implica ou refere-se a contacto com outros participantes, seja de forma presencial ou virtual.

 

 Quando perguntamos: “porque desistem os clientes?”, foi possível encontrar dados que indicam que “68% saem pela indiferença”[iv]. Mas quando a pergunta é “porque se mantêm os clientes?” os dados revelam que 84% das pessoas afirma que: “o pessoal tem interesse genuíno em mim” [v]. Esta é uma área feita de pessoas para pessoas, e como tal, o interesse no contacto e nas relações humanas ainda revela ter uma muito grande importância. Cabe a todos os instrutores terem interesse genuíno, e compreenderem as diferentes relações e ligações que os clientes têm como o exercício físico.

 

As aulas de grupo são muitas vezes referidas pelos clientes como uma “paixão”. Seja Indoor Cycle; Zumba®, ou os programas da Les Mills®, o importante é sabermos acompanhar e encorajar no processo de descoberta, desenvolvimento e obtenção de resultados. Assim, criamos clientes satisfeitos, assim fidelizamos clientes, e criamos clientes promotores dos nossos espaços e experiências. Esses clientes irão influenciar outras pessoas fora do ginásio a “experimentarem a sua paixão”, e essa é uma das formas de aumentar a taxa de penetração do fitness em Portugal, promovendo um estilo de saúde mais saudável a cada vez mais pessoas.

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João Gonçalves

Formador CEFAD.

Bibliografia/Webgrafia

[i] Pesquisas revelam por que a música certa é essencial para um ótimo treino em grupo in Les Mills [online], 2023,https://www.lesmills.com/br/academias/pesquisas-e-insights/pesquisas/pesquisas-revelam-por-que-a-m%C3%BAsica-certa-%C3%A9-essencial-para-um-%C3%B3timo-treino-em-grupo/

 

[ii]Pesquisas revelam por que a música certa é essencial para um ótimo treino em grupo in Les Mills [online], 2023,https://www.lesmills.com/br/academias/pesquisas-e-insights/pesquisas/pesquisas-revelam-por-que-a-m%C3%BAsica-certa-%C3%A9-essencial-para-um-%C3%B3timo-treino-em-grupo/

 

[iii] Bedfort, Paul, 2017 – 4º Congresso Gestão Health & Fitness Clubs; Janeiro.

[iv] Rodriguez, Melissa, 2016 – several research studies to explain why members leave—and how to make them stick around – IHRSA. Outubro.

[v] Rodriguez, Melissa, 2016 – several research studies to explain why members leave—and how to make them stick around – IHRSA. Outubro.

[1] Vanderburg, H. (2010). O Poder de um Grupo. Apresentação na XVII Convenção Internacional de Fitness “O Corpo em Movimento”, Aveiro, Nov. 27, 2010

 

 

[1] Pesquisas revelam por que a música certa é essencial para um ótimo treino em grupo in Les Mills [online], 2023,https://www.lesmills.com/br/academias/pesquisas-e-insights/pesquisas/pesquisas-revelam-por-que-a-m%C3%BAsica-certa-%C3%A9-essencial-para-um-%C3%B3timo-treino-em-grupo/

 

 

[1]Pesquisas revelam por que a música certa é essencial para um ótimo treino em grupo in Les Mills [online], 2023,https://www.lesmills.com/br/academias/pesquisas-e-insights/pesquisas/pesquisas-revelam-por-que-a-m%C3%BAsica-certa-%C3%A9-essencial-para-um-%C3%B3timo-treino-em-grupo/

 

[1] Bedfort, Paul, 2017 – 4º Congresso Gestão Health & Fitness Clubs; Janeiro.

[1] Rodriguez, Melissa, 2016 – several research studies to explain why members leave—and how to make them stick around – IHRSA. Outubro.

[1] Rodriguez, Melissa, 2016 – several research studies to explain why members leave—and how to make them stick around – IHRSA. Outubro.

 

 

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